O fim dos gerentes?

por Thomaz Wood Jr. em CartaCapital.com.br

conflito

Após ceifar empregos na base, chegou a hora de a tecnologia ameaçar o meio da pirâmide corporativa.

Uma das mais fascinantes criações corporativas é o gerente. O personagem descende do feitor e do capataz. Ganhou responsabilidades e autoridade com a longa marcha da industrialização, no século XX. Adquiriu respeito e status com a emergência do setor de serviços. Para explorar e, ao mesmo tempo, impulsionar sua popularidade, surgiram livros, revistas especializadas e cursos. Hoje, o filé mignon das escolas de negócios são os cursos de formação gerencial. Um programa de uma semana em instituição de bom nome, n’algum lago suíço, floresta francesa ou recanto da Nova Inglaterra, pode custar 10 mil dólares.

O gerente é o profissional que planeja, organiza, coordena e controla as atividades de uma organização, de forma que ela atinja seu objetivo. Esse costuma ser o lucro, valor que resulta da diferença entre as vendas e os custos, descontados as taxas, os impostos e diversos pagamentos que não podem ser oficialmente declarados. O gerente lá está para fazer com que se extraia o máximo valor, com o menor recurso. Dessa forma, ele garante a sustentabilidade dos negócios, a perenidade dos empregos (que sobram), a satisfação dos clientes e as férias dos donos, em Orlando ou Aspen, dependendo do porte da empresa.

Ao ser promovido a gerente, um profissional deve deixar de trabalhar. Sua missão é fazer com que os outros trabalhem. Para conferir honradez à posição, deve adotar a alcunha de líder. Noutros tempos, o título de líder era reservado a estadistas, generais e grandes nomes dos movimentos sociais. Não mais. Desde a década de 1990, qualquer gerente com modestas competências e limitadas capacidades passou a ser também um líder. A valorização ajudou a classe dos gerentes a crescer, tornando sua existência, quase sempre cara e frequentemente redundante, um fato natural na vida corporativa. 

Nos últimos anos, entretanto, uma séria ameaça começa a rondar a resiliente classe dos gerentes: a tecnologia. O filme é conhecido. No século XIX, o avanço tecnológico transformou sociedades agrárias no mundo urbano e industrial que conhecemos. A mudança foi brutal e traumática, porém, criou as bases para um longo ciclo de desenvolvimento. Na segunda metade do século XX, novamente o avanço tecnológico esvaziou fábricas e forçou a migração do trabalho para o setor de serviços. Foi duro e doloroso, obrigando a esforços de reeducação e adaptação.

Agora, a tecnologia pode vitimar a classe gerencial. Leva algum tempo até que novas tecnologias se combinem com novos modelos de negócios, resultando em impactos reais. O processo é longo, com muitas tentativas e erros. No entanto, nos últimos anos, a evolução das tecnologias de comunicação e da informação, o desenvolvimento de aplicativos, o barateamento de custos e a criatividade de empreendedores geraram frutos: surgiram empresas intensivas em conhecimento e tecnologia, nem sempre exigentes em capital e extremamente econômicas em trabalho gerencial.

As fábricas automatizadas do fim do século XX substituíram trabalhadores por robôs. Agora é a vez de as empresas de serviços substituírem gerentes e outros profissionais por softwares. Os efeitos ainda são alvo de especulação. Por um lado, um movimento que libera os seres humanos de tarefas repetitivas e maçantes é um sonho de qualquer utopista.  Por outro, o desemprego e o agravamento das desigualdades são efeitos palpáveis e hoje incontestáveis.

Em editorial da revista científica Administrative Science Quarterly, veiculada em junho de 2015, Gerald F. Davis observa que, a partir dos anos 1980, mudanças na economia alteraram o perfil de ocupação dos egressos de MBAs, o templo formador de gerentes. Em lugar de buscar trabalho ou receber ofertas de grandes companhias industriais, eles passaram a ser absorvidos por empresas de consultoria e por instituições financeiras.

Ao mesmo tempo, observa o autor, a tecnologia da informação passou a substituir parte das atividades dos gerentes por algoritmos. Hoje, nos Estados Unidos, 7 milhões de profissionais são classificados como gerentes, porém, seu trabalho não envolve necessariamente a supervisão de outros profissionais. A gestão de pessoas por outras pessoas pode estar se tornando anacrônica. Chocante: as mudanças podem fazer com que os gerentes voltem a trabalhar.

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